quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Missão: Ténue Sobrevivência

Meus caros,
Já uma ou outra vez vos falei do quarto 007. Pois bem, finalmente, este(s) menino(s) organizaram-se e criaram um blog. O texto original é o mesmo que podem encontrar na mais recente edição do Superávit. Está de tal forma fenomenal que não resisto a publicá-lo também neste meu cantinho, se não por mais, para engradecer o espírito do seu escritor! (lol)
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Passo a citar:
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" Missão: Ténue Sobrevivência

Depois de uma breve passagem pelo glamoroso e flutuante centro de Barcelona, acostamo-nos durante 12 longas e àrduas horas, no mármore frio do aeroporto da mesma cidade, ponto de escala da nossa viagem entre Porto e Bucareste, aquele mentalmente longínquo lugar por onde passaríamos os próximos meses ao calor do programa de intercâmbio internacional – Sócrates/Erasmus.
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São “7 da madrugada” quando um de nós sente o bastão de “la policia” encostar-se por entre as costas com ligeiros toques subtis, na tentativa de nos acordar daquele fantástico espectáculo de sono que estavamos a dar no meio do pátio do terminal 2 do referido aeroporto. Ressaltados, acordámos e sentimos que não haviam ossos entre as nossas entranhas, apenas dor. Lá entramos no avião e a chegada ao destino foi algo interessante; um taxista assassino de estradas e fraudulento guiou-nos de forma infernal pelo meio de estradas que mais pareciam reais pistas de Daytona, levando-nos ao suposto abrigo tanto prometido pelas entidades escolares responsáveis por tal. Qual o nosso espanto quando afinal as nossas célebres moradias foram talvez extraviadas por aliens quiçá. A resposta que nos foi dada limitou-se a informar que já não mais existiam quartos disponíveis e a alternativa seria umas quatro paredes mal pintadas em fase de reconstrução. Não fosse o espírito aventureiro que nos corre por entre as glândulas da curiosidade, saltámos para dentro daquele ternurento covil de baratas onde passamos uma estrondosa noite de poker, cevada fermentada e muita limpeza à mistura.
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Dia 2, problema resolvido graças à persistente insistência das nossas conterrâneas em reclamar das condições daquele, repito, ternurento ninho – mudámos de quarto. Já bem instalados, com tv cabo disponível para assistir aos melhores jogos do campeonato luso decidimos festejar à bom português: 50 pacotes de leite comprados na vacaria vizinha foram suficientes para nos deixar com uma certa indisposição e estranhas tonturas e perdas de equilíbrio, apenas explicáveis pela possível deficiente pasteurização da conhecida bebida branca.
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A saída às ruas da cidade capital torna-se sempre um regalo para os nossos mal acostumados olhos, que se deleitam com tantos monumentos de diferentes formas e tamanhos, cores e curvas, mas sempre com um toque clássico e socialista da cultura europeia de leste. Qual espírito que se levanta sem esforço, os nossos corações ascendem-se felizes de tamanhas iguarias por entre o paradoxal encontro do acinzentado toque infeliz dos prédios degradados e a beleza descomunal de uma mistura intercultural latino-eslávica bem presente na silhueta paisagística.
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O regresso aos nossos aposentos, não curiosamente destacado pelo número 007 - símbolo de virilidade masculina – costuma fazer-se pelas 7 da madrugada, hora em que, por iniciativa filantropa de nossa parte, deliciamos os residenciais vizinhos com um doce despertar induzido pela nossa orquestra vocal trabalhosamente ensaiada por entre vários palcos nocturnos de concertos à capella, vizinhos estes que simpaticamente nos enviam afáveis cartas de recomendação ao reitor da Academia de Estudos Económicos de Bucareste (se não nos enganamos, é mesmo este o nome da universidade onde estudamos).
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Numa fria, contudo harmoniosa noite de confraternização erásmica e por entre as vazas de mais um poker (ressente-se aqui a falta do King) a comitiva do afamado quarto da residencial moxa E lá se decidiu fazer a sua primeira viagem “vá pra fora, cá dentro” com destino à presente capital europeia da cultura - Sibiu – situada do outro lado da cordilheira romena dos cárpatos, um tanto mais a noroeste deste país residência oficial do maquiavélico conde drácula. Encalhados na estação de autocarros por falta de lugares no luxuoso autocarro, quase vimos os nossos planos espalharem-se qual montão de cacos velhos quando, no entanto o forte poder de persuação das companheiras lusas facultou-nos um lugar em pé durante 5 horas de viagem no Queen Mary II das terras romenas. Voltamos a não sentir ossos entre as entranhas, apenas dor.
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Sibiu é soberbo, não com tanto deleite monumental, é um facto, mas a verdadeira arquitectura rústica alemã, estava bem presente ao longo das românticas casas enfeitadas pelos quase doces flocos de neve, onde reinavam os bares e clubes de desenho original, aos quais quase que obrigatoriamnete tivemos de degustar um ou outro líquido mais ou menos conhecido por entre as bandas.
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Passados os primeiros longos 30 dias de intermivável estudo, decidimos então frequentar a primeira aula, quando nos aparece possivelmente a mãe da retirada estrela famosa da música pop internacional Cher, pergunta-nos como se diz carne de porco em português e manda-nos todos passear dizendo que a cadeira de Business Investiments Strategy ficará feita entregando um qualquer trabalho sobre quiçá, um tema qualquer. Cientes da notícia, tristes percorremos a curto e desinteressado passo o trilho para a leitaria mais próxima, na esperança de encontrar algo que nos deixasse de bigode branco em quantidades abundantes, pois já diziam as nossas mães que um copo de leite ajuda a dormir, e dormir para esquecer seria o melhor remédio.
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Se a memória não nos falha, cremos que ainda fomos a mais uma ou duas aulas semelhantes, umas com guerras à mistura, outras leccionadas nas pouco arrumadas casas dos professores, pelo que acabamos mesmo por desistir por falta de competência intelectual da nossa parte e deixamos a roménia rumo a Istambul - terra da simpatia e dos banhos turcos. 18 fantásticas horas de comboio (continuamos na dúvida se era mesmo um veículo ferroviário), foram compensadas pela beleza estrondosa de toda a cidade e os chás de ervas ocultas.
Semana depois seria altura de voltar a por os pés fora de Bucareste – Vienna, Bratislava e Praga – uma semana seriamente inolvidável para a comitiva de 14 portugueses que embarcaram via low cost para um dos destinos mais high cost da poliencefalia que é o continente europeu. Desde multas por fumar em lugares menos apropriados, quedas suicidas de beliches, expulsões de residenciais, enfim, onde faz bom trabalho um português, fazem dois ou três.
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Regresso à base: altura de uma astuta e rigorosa pesquisa de um trabalho na internet qualquer sobre quiçá, um tema qualquer, para apresentar à possivelmente mãe da retirada estrela famosa da música pop internacional, Cher.
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Tem sido esta terrível e incalculável fórmula matemática de vida que nos tem atormentado os dias, pois até nos casinos nos obrigam a comer e beber sem a possibilidade de podermos contribuir com algum,vá lá, dinheirito. Por tudo isso, meus caros amigos e companheiros, se não entenderam o nosso real sofrimento, por favor afastem-se desta terra. Um grande bem-haja! "
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02 Dezembro 2007

2 comentários:

Anónimo disse...

de certeza que é esse o link do blog? nao consigo entrar

Fernando Camacho disse...

Que texto!